Meio milhão de jovens no Brasil exercem funções fora da área de graduação; entenda o motivo
Milhares de jovens brasileiros com ensino superior atuam fora da área de graduação. É o que mostra um levantamento.
Milhares de jovens brasileiros com ensino superior atuam fora da área de formação. É o que mostra um levantamento realizado pela consultoria iDados no primeiro trimestre de 2020. Segundo o estudo, 40% dos brasileiros formados com idades entre 22 e 25 anos são considerados sobre-educados, ou seja, estão em ocupações que não exigem qualificação. O número corresponde a 525,2 mil jovens.
O levantamento tem como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do elevado nível de sobre-educação estão ligados à desaceleração da economia, segundo a pesquisadora do iDados e responsável pelo levantamento, Ana Tereza Pires.
Saturação de jovens com diploma de graduação
De acordo com ela, houve uma formação muito grande de pessoas com ensino superior nos últimos 10 anos. A partir de 2015, os formados enfrentam um cenário de crise e passaram a ter muita dificuldade para encontrar uma vaga compatível com o nível de estudo.
Entre 2015 e 2016, houve uma forte recessão provocada por desequilíbrios macroeconômicos e turbulência política. Os anos seguintes também foram marcados por um baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), insuficiente para recuperar as perdas da economia. Agora, a crise provocada pela pandemia do coronavírus deve agravar ainda mais o cenário fragilizado do mercado de trabalho.
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Para o professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho, as perspectivas são de piora do quatro atual, pois a pandemia está provocando fechamento de negócios e queda generalizada de emprego e renda. Desta forma, muitos jovens não estão conseguindo encontrar emprego nem no setor informal e os conhecimentos apreendidos na faculdade e no ensino médio ficam depreciados.
Segundo Filho, as condições vão fazer com que os salários sejam ainda menores no futuro e que a probabilidade do desemprego aumente. A consequência para o país pode recair até mesmo na produtividade e dificultar o enriquecimento como um todo.
Ainda assim, a conclusão de um curso de ensino superior faz diferença no currículo. A taxa de desocupação é menor entre trabalhadores com diploma universitário.
Mônica Chagas Ferreira é mestranda em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e formada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Como pesquisadora, estuda Análise do Discurso na perspectiva foucaultiana, contemplando relações de saber, poder e política presentes na mídia. Enquanto jornalista, já atuou em rádios e veículos impressos. Atualmente trabalha como assessora de comunicação e redatora do Jornal O Norte.